8/12/2016 - Campinas - SP
da assessoria de imprensa
Um substantivo feminino tomou conta do noticiário mundial: a palavra crise. Ela vem sendo utilizada, o tempo todo, para definir o tempo presente. Crise financeira, política, econômica. Crise dos poderes e das instituições. Crise, que é multifacetada. “A crise depende muito do lugar de percepção de cada um. Para o gestor de uma empresa ou instituição ela é dramática, para a imprensa é ‘mais uma’”, afirma Jorge Duarte, coordenador de Comunicação de Ciência e Tecnologia da Embrapa, primeiro palestrante do Simpósio Comunicação: Universidade e Sociedade, promovido pela Assessoria de Comunicação (Ascom) da Unicamp e realizado nesta quarta-feira (7) no Centro de Convenções da Unicamp.
Além da gestão de crise, o evento abordou temas como a comunicação da ciência, o papel do porta voz em uma instituição, como a ciência pode virar notícia, e a relação entre cientista e jornalista. Na mesa de abertura, participaram o reitor, José Tadeu Jorge; o coordenador-geral da Universidade, Alvaro Penteado Crósta; e o organizador do evento, o jornalista Clayton Levy, assessor-chefe e editor responsável pela Ascom.
Jorge Duarte ressaltou que algumas crises são muito impactantes e podem afetar toda a sociedade. “O papel da comunicação na crise é a articulação entre as diferentes faces, entre a comunidade, corpo dirigente e sociedade para que todos dialoguem, convivam e se articulem da melhor maneira possível”.
O palestrante acrescentou que os comunicadores precisam estabelecer “um fluxo de comunicação e não defender um lado”, como se fosse um advogado da empresa ou instituição. “A única receita é estar preparado. O diálogo precisa estar presente, a área de comunicação muito bem preparada, porta-voz treinado, enfim, ter os instrumentos para dar respostas rápidas a sociedade”. Quando há uma “competência instalada”, disse Duarte, a crise pode se transformar apenas em um tropeço. Outra questão a ser pensada, de acordo com o palestrante é que a crise é sempre responsabilidade de todos os atores envolvidos e não é só da comunicação.
O organizador do evento, Clayton Levy, comentou sobre os investimentos de recursos públicos na universidade e o papel das equipes de comunicação. “Divulgar ciência é prestar contas ao contribuinte e a Ascom, no âmbito da Unicamp, tem procurado fazer esse papel”.
Ele também lembrou que, ao longo de duas décadas, o Jornal da Unicamp já divulgou cerca de 5 mil pesquisas acadêmicas, com um “efeito multiplicador” que ocorre quando a imprensa faz suas reportagens a partir dos assuntos divulgados pelo jornal. Levy prestou uma homenagem ao idealizador e criador da área de imprensa na Unicamp, o escritor e jornalista Eustáquio Gomes, que faleceu em 2014.
Para o reitor da Unicamp José Tadeu Jorge, presente na mesa de abertura do evento, esse é o momento mais oportuno para a Universidade discutir a questão da comunicação, proposta do evento. “Estamos seguramente vivendo a maior crise econômica e política. É difícil falar de um momento mais propício para o tratamento da crise do ponto de vista institucional do que esse que estamos vivendo”, salientou.
De acordo com o reitor, é muito importante que a comunicação esteja empenhada no trabalho de mostrar para a sociedade o que a ciência faz pela vida das pessoas. “As pessoas assistem TV a cabo nas suas casas, mas nem imaginam que a fibra ótica, neste país, foi desenvolvida na Unicamp. Aqui se produziu a primeira fibra ótica brasileira”.
O coordenador-geral da Unicamp, Alvaro Penteado Crósta, ressaltou que o desafio das equipes de comunicação é fazer com que a maioria das notícias divulgadas mostrem o excelente trabalho que a instituição faz, sustentada com recursos do contribuinte. Ele fez uma comparação mostrando que as universidades paulistas custam ao Estado quase o mesmo que a área de segurança pública, entretanto a importância e a visibilidade de ambas são diferentes para o cidadão. “Esse é o grande desafio que nós temos”.
Porta voz
Uma das maneiras da instituição estar preparada para o enfrentamento de crises é lançando mão da figura de um porta voz. Foi o assunto da segunda palestra da manhã, com a jornalista e consultora Olga Curado. “O ‘DNA’ da imprensa está em identificar aquilo que falta e não o que funciona, isso faz com que o papel do porta voz seja bastante importante porque ele funciona como um bombeiro para minimizar os danos causados pelos fatos negativos”.
Olga explicou que o porta voz tem a função de esclarecer a população. “Ele precisa ter fatos e dados, precisa estar preparado para não entrar na subjetividade da comunicação”. A consultora salientou que o porta voz não pode fazer as vezes de um relações públicas. “Ele traduz o pensamento da organização. É seu representante, a posição oficial que fala pelas organizações, pela universidade, empresa ou partido. Ele não é uma pessoa, mas uma entidade e por isso precisa estar alinhado com o pensamento da instituição”.
Nos momentos de crise, Olga Curado frisou que as organizações precisam mesmo “mostrar a cara”. “Se você se comunica de maneira impessoal, acaba diminuindo a possiblidade de intervir na percepção do outro. O que está escrito não transmite com clareza o sentimento daquele que está comunicando”. A humanização é fundamental no processo de comunicação, reafirmou.
Globo Repórter
Como a ciência vira notícia no Globo Repórter é o assunto abordado pela palestrante Marislei Dalmaz, editora do programa da Rede Globo. Ela destacou que é a ciência que mais diz respeito ao dia a dia das pessoas que está em pauta no Globo Repórter, como assuntos de alimentação, por exemplo. Marislei disse que há um intenso trabalho de pré-produção para que as notícias da área cheguem ao público de uma maneira compreensível e que cabe a outros programas da emissora como por exemplo o Fantástico, se dedicar a um tipo de pesquisa sem aplicação imediata, mais complexa.
No entanto a editora acredita que todo tipo de estudo pode virar notícia, bastando que os jornalistas utilizem criatividade. “Por exemplo, fomos fazer uma matéria que fala de alergia, que está no ar, 'inventamos' uma bolha de sabão e colocamos o repórter dentro da bolha. Sempre há uma solução, mas depende do jornal”. A ciência, afirma, tem um espaço muito grande, “mas sempre tem aquela pergunta que nós nos fazemos: como isso pode ser últil para meu público? ”.
Já a jornalista e colunista do jornal Folha de São Paulo, Sabine Righetti contou muitas histórias do dia a dia da redação do jornal para falar sobre a relação entre cientistas e jornalistas. Sabine afirmou que a ciência "não é neutra" e que o jornalista também tem o papel de questioná-la, portanto nem sempre as notícias serão consideradas positivas pelos pesquisadores. De acordo com Sabine, no Brasil, ainda há várias dificuldades na relação entre repórteres e cientistas, ao contrário do que ocorre em alguns países cujos pesquisadores vêem nos jornalistas seus aliados na comunicação com a sociedade.
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