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16/5/2017 - Campinas - SP

Tendência gourmet na alimentação resiste à crise, aponta pesquisa da Unicamp




da assessoria de imprensa 

Processo de 'gourmetização' surge após período de ascensão econômica que a sociedade brasileira viveu entre 2004 e 2008, segundo professor.

ma pesquisa da Unicamp, em Campinas (SP), aponta que a crise econômica não afetou a tendência gourmet que atinge a indústria de alimentos. A "gourmetização" é uma prática adotada por empresas para agregar valor a um determinado produto por meio da diferenciação.

O estudo foi tese de doutorado do pesquisador Valter Palmieri Júnior, que também é professor de economia da Esamc.

"O mais incrível é que realmente surgiu no boom econômico e social (2004-2008). A gourmetização está totalmente relacionada com [...] a ascensão da classe média. A classe A quer se diferenciar já que a classe média se aproximou do padrão de consumo. E mesmo com a crise econômica não há sinais de decaída", afirma.

 

Linguagem

O pesquisador explica que essa situação ocorre porque o consumo hoje na sociedade contemporânea funciona como uma linguagem. Portanto, muitas vezes os consumidores estão dispostos a pagar mais pela mesma quantidade de produto apenas para se diferenciar.

 

"Nós não consumimos apenas pelo valor de uso. É uma forma de criar identidade. Nós criamos uma identidade através do que nós consumimos, das roupas, das viagens, do carro, entendendo até o corpo como um consumo", destaca.

 

Palmeiri Junior ressalta que a publicidade agora tem um papel ainda mais fundamental na disseminação de discursos que incentivam o consumo. "Existe o discurso hoje da alimentação como função estética, para criar músculos, o discurso anti-industrialização, o discurso do alimento como algo relacionado a prazer", salienta.

Segundo o professor, isso cria para a indústria de alimentos uma possibilidade de lucrar ainda mais, já que ela não ganha apenas com a massificação, mas também no valor agregado que esses discursos emprestam aos produtos.

"A indústria cria um processo de diferenciação de produtos para criar uma diferenciação de preço, porque aí ela vai lucrar muito mais [...] Eu considero que a publicidade é um elo entre a indústria de diferenciação e estes discursos. A indústria se aproveita até do discurso anti-industrialização", pontua.

 

"Você pode encontrar nos supermercados café em pó de R$ 9 até R$ 230. Essa diferença entre o preço mais alto e mais baixo se ampliou muito, coisa que há 15 anos você não percebia. Comida japonesa começa a virar febre entre a classe A, não é imediato que toda a população vai aderir, muitos vão odiar, mas vai chegar de algum modo", revela.

 

Palmieri Júnior explica ainda que a "gourmetização" se utiliza do desejo de consumo, que é democratizado. No entanto, a capacidade de comprar os itens sonhados não é igual para todos.

"Ela tem como pano de fundo a busca do lucro, só que é uma busca do lucro que se utiliza da diferenciação social. Ela se utiliza da diferenciação social que já existe e amplia [...] Eu acho que a palavra gourmet em si, pode nos próximos anos cair em desuso, mas o sentido que envolve não, que é essa lógica de afirmar, de designar um produto de alta qualidade. A tendência é ampliar", conclui o professor.

 

Gourmet popular

Um exemplo de estabelecimento popular que aderiu à "onda gourmet" é a Ceasa Campinas. No sábado (13), a instituição entrou na rota dos chefs e da gastronomia diferenciada com o evento "Ceasa Gourmet".

No entanto, segundo o gerente do departamento de Comunicação da Ceasa, Ricardo Alécio, a medida não visava elitizar o ambiente, mas sim aproveitar a tendência do momento para atrair novos visitantes e mostrar que a instituição vai além das frutas, verduras e flores.

 

"A ideia é abrir a Ceasa cada vez mais para a população, para atrair um público que não é da Ceasa, aproveitando essa tendência. A proposta é abrir para que a população conheça melhor a Ceasa", afirma.

 

No evento, chefs prepararam pratos sofisticados que poderiam ser degustados pelos visitantes, além de música ao vivo. A expectativa da organização era de que 20 mil pessoas participassem.

"Vamos aproveitar a marca da gourmetização que pegou, mas ao mesmo tempo vai abrir para um público que conhece a Ceasa apenas como varejão e mercado de flores", conclui.

 



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